quarta-feira, 9 de maio de 2007
Ceifeiros
[…] Em linha, à borda do trigo, distanciados seis metros uns dos outros, começaram a terrível faina da ceifa…As primeiras horas até ao almoço são suaves, porque os 38 graus do Sol pouco fazem nessas índoles de salamandra, afeitas a torrar… A Oriente o Sol vem caminhando, saindo da fumarada do horizonte, passando da cor de sangue a bronze liquido; e os seus raios, à medida que se aprumam, trazem na escandéncia náuseas de veneno e a angústia horrorosa do metal derretido sobre a carne; rareia o ar, a aragem matinal cessa de todo, os cães arquejam, de língua caída, as cavalgaduras cessam de rilhar; e calando-se os pássaros, e os voos mais lentos, os ares mais turvos, a sombra mais efémera – é a hora do tormento diabólico da sede […]
(Fialho de Almeida)
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